16.12.09

Cobertura Macondo Circus 2009: Primeira parte

Abrigado anteriormente em regiões verdejantes e cercadas de muito mato, a 6ª edição do Festival Macondo Circus integrou-se à Santa Maria, no coração do Rio Grande do Sul. A cidade acabou servindo de pano de fundo para interação com os mais diversos personagens. A música desempenhou papel principal, com shows abertos, gratuitos, em praça pública, em pleno contato com o povo.

E como num daqueles filmes onde personagens coadjuvantes são fundamentais, Macondo Circus promoveu o encontro das artes, da música com, por exemplo, o teatro, o grafite e a cultura do fanzine. Por todos os lados, durante quatro dias, Santa Maria respirou cultura, além de shows, passaram pela tela, exposições, debates, performances e oficinas, sempre percorrendo o tema: “música e cultura urbana”.

De vidro ou de papel, tanto faz, a tela foi tingida.

Já no primeiro dia, aliás, peças, fios, placas e muita sucata de computador. Ministrada por Cristiano Figueiró em parceria com Pontão TV Ovo, Pontão Junta Dados da Uneb, CMID e Associação CUICA (Cultura, inclusão, Cidadania e Artes), trouxe crianças e adolescentes para a reflexão sobre o descarte e a reciclagem digital: era a oficina de meta-reciclagem.

A imagem que percorre a tela agora é um grande galpão, repleto dos mais variados tipos de peças de computador, Cristiano ao centro, crianças ao redor. Figueiró disse que depois de uma explicação básica sobre o funcionamento interno de computadores, “juntamos peças e construímos alguns PCs; é um equipamento simples, mas se você, por exemplo, colocar Linux, roda legal, dá pra usar editor de texto e navegar na internet, principal demanda dessa molecada”, explicou. Ao final, todas as máquinas montadas foram doadas para os guris que participaram da oficina.

Praça Saldanha Marinho, quinta (03/12)
O dia começa a entregar-se à noite, que é de lua cheia. Depois de um vôo alucinante literal, de Mauro da Bandinha Di Dá Dó, sem maquiagem, o quarteto agora está no camarim, trocando ideias. "Na verdade o convite pra tocar no Macondo veio do público, que intimou o Atílio a nos colocar pra tocar no Festival", explica Paulo Zé, um dos clowns da banda.

Pouco depois, após três músicas, as pessoas já estão chocadas com a visceralidade e a catarse musical causada pelos três Macacos Bong: "Amendoim" "Noise James", e "Fuck You Lady". Numa apresentação explosiva, as pessoas paralisam em frente ao palco; outras sentam para contemplar o concerto. “Já vi uns 200 shows do Macaco Bong, mas hoje..., estou de cara”, resumiu Pablo Capilé, que esteve em Santa Maria puxando o 1º Encontro Integrado das Regionais Sul e Circuito Fora do Eixo.



E enquanto Bruno Kayapy, guitarrista do Macaco Bong (foto), debruçava-se ao chão, tirando música dos pedais, da guitarra, o artista urbano Luis Flávio, bem atrás do palco, assinava Trampo nos passarinhos que grafitou numa carrocinha (foto capa) – a ferramenta de sustento dos parceiros Robson e Joel Ferreira Leite. “Eu estava passando, vi a movimentação, cheguei e entreguei: pode fazer o trabalho!”, contou Joel. “Ele chegou e pediu para fazer um desenho, como é que você vai negar?”, sorriu Luis Flávio.

Alguns trabalhos de Trampo estiveram expostos, durante o Festival, no Macondo Lugar, na Sala Dobradiça, um espaço destinado à mostra de artistas plásticos. Foi ele, inclusive, que articulou todos os outros trampos expostos na Dobradiça.


Na tarde seguinte, o jornalista Fernando Rosa foi convidado para falar sobre a “Cena Independente e novas formas de comunicação”. Rosa fez um rápido histórico do surgimento e evolução do Portal Senhor F, site que criou no finzinho dos anos 90. Hoje, além de referência para o mercado musical independente, funciona como uma agência de notícias e selo digital, atualmente com dez artistas.

Fernando Rosa falou também sobre a importância de as bandas usarem todas as ferramentas possíveis na rede, para evidenciá-las. “Veja o Repolho, por exemplo, último lançamento Senhor F, até ontem estava na margem dos 3.200 downloads e, levando em consideração que ninguém é maluco de baixar o mesmo disco duas vezes, é relevante, não?” – exemplificou.

Depois de uma hora e meia de debate, Rosa migrou junto aos demais para a praça, onde aconteceriam três shows. Lá, num varal improvisado, surgiam as primeiras imagens confeccionadas na oficina de Xilogravura, oferecida por Marcelo Monteiro, no mesmo horário da palestra de Rosa.

Os Subtropicais, que tinham acabado de descer, agora davam entrevista para a gurizada da cobertura colaborativa. Divididos em equipes, cerca de 30 jovens (de diversas áreas, mas sobretudo, estudantes de comunicação) fizeram a maior cobertura em rede, em massa, que já aconteceu num festival de música independente no País, até hoje. Em quatro dias, mais de 130 artigos foram publicados, entre textos, vídeos e fotos, além das transmissões dos shows, no site do Macondo.
O processo proporcionou aos estudantes um estágio (na área da música) intensivo e real – tão ausente nas academias – que estabeleceu um link entre a universidade e o mercado.



Dalle! Durante a entrevista dos Subtropicais, quem se ajeitava no palco eram os Móveis Coloniais de Acaju. Pela primeira vez em Santa Maria, os Móveis armaram aquele carnaval típico, interagindo bastante com o público, que lotou a praça, enchendo a cidade de cores, de alegria e dançando ciranda (vídeo). “O Tempo”, “Café com Leite”, foram algumas.



Finado o show, perto das 22h, o pessoal rumou para o restaurante oficial do Macondo Circus: o Café Cristal, cujo cardápio lê-se “desde 1938”. Comida boa, quentinha, nos quatro dias, degustamos polenta com carne, strogonof, feijão preto, fritas, ente outros caseiros.


De madrugada, dois shows no Macondo Lugar: Zefirina Bomba (foto) e Superguidis. O show do Zefirina estava cheio, agressivo como de costume e calcado nas músicas do disco novo, de 2009 ("Nós Só Precisamos de 20 Minutos Pra Rachar Sua Cabeça") e com uma formação diferente: Poly segurou o baixo no lugar de Martin.











Os Superguidis entraram em seguida. Abriram com “Spiral arco-íris” e tocaram outras cinco músicas do primeiro álbum, adoradas pelo público do Macondo, que cantou juntinho com Andrio. A banda parava após cada música, atravancando o show. Num desses longos intervalos, o guitarrista Lucas Pocamacha, fez piada com Lelia Lopes, falecida no dia anterior. “Quem não se lembra de Renascer? Quem aqui não dedicou uma a Leila Lopes?”.



















Na última música, “Malevolosidade”, Diogo (foto) abandonou o baixo, tomou o microfone de Andrio e levou-o ao baterista, que não quis cantar junto. Ficou uma bagunça, resumida por Andrio: “foi o show mais divertido e avacalhado que já fizemos”. Foi o único show (fechando um dia) que não teve bis, embora com manifestações da platéia. “Não fosse a minha corda estourada, a gente tocava”, desculpou-se Lucas.

2 comentários

Titi disse...

Midia independente também pode ser profissional.. basta colocar créditos nas fotos. Obrigado.

Gabriel Ruiz disse...

Titi,

todas as fotos estão creditadas, basta colocar o cursor do mouse sobre a foto.
grato.

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