14.12.09

Cobertura Goiânia Noise 2009: segunda noite de shows no Martin Cererê

A segunda noite de shows do Goiânia Noise 2009, no Espaço Cultural Martin Cererê (28/11), marcou pelos históricos encontros no palco e, principalmente, pela variedade de bandas estrangeiras, vindas da Europa, EUA e América Latina.

Segunda banda a se apresentar, os quatro garotos do The Backbiters adiantaram o clima rock ´n roll que encheria o palco Pyguá naquele sábado nublado. The Backbiters é referência da nova (e boa) safra de bandas goianas, já que o seu primeiro disco cheio foi gravado no início deste ano (Backbiters). O quarteto faz um rock ´n roll com pegada e riffs elaborados, solos compactos, estridentes – e algo ressonante com o rock noventista dos Hellacopters e os vocais do Pearl Jam. A faixa “Ridiculous fame” encerrou o show, mas a melodia ficou grudada.




Mudando o clima total, o palco Yguá recebeu, direto do Amapá, o sexteto Mini Box Lunar. A banda foi um dos destaques da noite, com o seu rock amazônico, doce, marcante, irreverente e cheio de psicodelismo, típico dos Mutantes. Duas garotas, Heluana e Jenifer “JJ” formam a linha de frente e fazem os vocais do Mini Box, que tem ainda guitarra, baixo, bateria e um maestro lisérgico nos teclados, Otto Resende, que explicou: “O Mini Box Lunar já nasceu torto, o nome foi definido em um lugar importante para nós de Macapá, um local boêmio, histórico, que é o Largo dos Inocentes; já viemos com a proposta da banda, anos 60 e 70, mas focado na música brasileira dessa época”, contextualizou após o show.



Também de uma das pontas do País, de Santa Catarina, o Cassim & Barbária esbanjou o som que os levou para palcos distantes do Brasil. Em 2009 o grupo participou de festivais no Canadá e EUA. Na mala levaram o EP de cinco faixas, “Ready”, que serviu de base no Goiânia Noise. Com duas baterias no palco, experimentações eletrônicas, duas guitarras, muito lounge e uma iluminação fodida, foi a primeira a arrebatar os holofotes, sobretudo com “That Old Spell”.

Com os shows começando a lotar, a temparatura dos dois teatros elevou-se e a fila do caixa ficou insuportável. A longa espera fez as pessoas migrarem para o outro ponto de comes e bebes, ao norte do Martin Cererê. Lá também rolava uma feira, entre outros, de moda rock, retro, vinis, CDs e acessórios.

Representante latino da noite, os argentinos do Los Lotus alternaram entre o visceral e o empolgante, porém discreto. Embora cheio e bem cimentado, o som da banda não tem digamos, um diferencial.



Elemento que não falta, por exemplo, aos canadenses do GrimSkunk. Eles são apenas cinco, mas nem parece, tamanha bagunça que acontece lá em cima. É uma imensa mistura, rica, que passa pela canção cigana, ska, metal e uma energia que lembra os Móveis Coloniais de Acaju. Perto do final do show, uma das últimas músicas transformou-se numa tarantela-rock-frevo, que entusiasmou geral. Ainda houve tempo de dedicarem uma ao George Bush, claro, ironicamente.

O show seguinte possibilitou o primeiro célebre encontro do sábado. Os mineiros do Porcas Borboletas repetiram em Goiânia o show que fizeram em São Carlos , no 3º Festival Contato, com o paulista Paulo Patife. Se o concerto do Porcas Borboletas já é, por si só, repleto de momentos ápices, sonoridades e intervenções maluco-teatrais de Danislau e Enzo Banzo (os vocalistas), Patife deu o gás que faltava pra coisa transbordar. Haja transpiração. O Porcas Borboletas é hoje um grupo regional que responde como uma das principais bandas da cena independente nacional.




Da Suiça veio o trio mais cool da noite, mais do que peculiar. O Mama Rosin trouxe na bagagem, acordeão, uma bateria enxuta e diferenciada (sem por exemplo, prato de ataque), guitarra e banjo. Os três integrantes cantam, e como cantam. Misturam folk, com boogie boogie e rock raiz, formulando canções alegres, dançantes que remetem às origens do rock ´n roll, aquele que beira o country. Os vocais são bem curtos e o acordeão, bem presente, funciona muitas vezes como uma gaita. Showzasso.

E se o Mama Rosin parece flertar com o céu, não restam dúvidas de que os Mechanics vêm do inferno. “Era para o CD ter ficado pronto, mas não chegou; esse viado também quase não chega (apontando para um dos guitarristas); são 15 anos de Noise, 15 anos de Mechanics e 15 anos dessa maldição. Mas o que interessa é saber como se atravessa o fogo”, disparou o vocalista Márcio Jr. Antes de cada música, Márcio citava um verso, um improviso do que estaria por vir. “A gente faz música cheio de ódio e vontade de morrer”, falou antecedendo “Ódio”.

A banda dividiu o palco com as performances do Grupo Empreza (SP), composto por três homens nus e retalhos de pano branco por todo o corpo. Um deles estava suspenso, preso ao teto por uma corda, uma espécie de cadeira de pano, que se tornou o alvo da fúria infernal dos Mechanics. Márcio pegou o pedestal e usou-o para balançar o sujeito. Balançou tão forte que em dez minutos o rapaz desistiu e desceu.



Mas foi o Black Drawing Chalks que promoveu o encontro mais emblemático do Goiânia Noise 2009. Na quarta música, o vocalista dos Chalks, Vitor Rocha, convidou Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys), que subiu e não desceu mais. “Eles fizeram o convite, aceitei na hora; há um, dois meses atrás, eles tocaram em São Paulo , me convidarem, fizemos uns ensaios e tocamos lá pra ver como ia ser”. E como foi Chuck? “Foi do caralho, eu estava há muito tempo fora do palco e é muito bom tocar”.
Duas músicas à frente, Fabrício Nobre foi intimado, cumprimentou os comparsas e disse à platéia: “não poderia recusar, essa banda é a menina dos meus olhos”. O som ficou bem alto, Chuck se revezou na bateria e nos vocais junto com Vítor Rocha e Nobre. Foi assim até o final. Estava realmente abafado ali dentro, mas na saída uma leve garoa caía, pra refrescar.



E finalmente, a banda conceitual do Goiânia Noise. Assim como nos anos anteriores, uma escolha estética e contemporânea, do cenário internacional. Acertaram em cheio: Dirty Projectors (foto capa). A banda é um furacão. Na verdade, aquela calmaria pós furacão.



O principal trunfo dos Projectos, ora dueto (“Two Doves”), música que abriu o show, quarteto (“Imagine it”), a segunda, ora quinteto, sexteto, trio... é justamente o fator de não se parecer com nada. É uma guitarra solada por sobre a outra, ora sem contra-baixo, ora sem guitarra, ora duas guitarras e teclados, e um coro de vozes, três femininas afiadas (outro diferencial) e uma masculina, (Dave) que chega a imitar teclados sintéticos, alternando momentos calmos com violência. A seqüência “Cannibal”, “Gimme”, “Rise”, “Thirsty” e “Temecula”, foi uma catarse. Depois de tanto rock na cabeça, um show de contato e estranhamento sonoro. Final digno de um grande festival, aliás.

A noite teve ainda show com as bandas Mugo, Vivendo do Ócio, Confronto, Evening e As Mercenárias.
--------------------------
TOP 8 GOIÂNIA NOISE 2009
Dirty Projectors
The Name
Mama Rosin
Guiso
Detetives
Cassim & Barbária
GrimSkunk
Milocovik
--------------------------
Over Música viajou a Goiânia independente, embora com hospedagem e almoço pagos pela produção do Goiânia Noise.

Crédito das fotos desta postagem: Gabriel Ruiz.

seja o primeiro a comentar!

Postar um comentário