30.10.09

Festival Jambolada: tarde de debates acalorados


Sob um asfalto pelando a sola dos calçados chegamos ao Muna (Museu universitário de Arte), região central de Uberlândia, onde aconteceria o primeiro evento da tarde de sexta-feira (23), o Jambo Debate. Com a temática “selos independentes e as novas formas de distribuição”, compunham a mesa quatro convidados: Ná Figueiredo (Newamazonia´s music), Eduardo Garbo (Mais Brasil), Letz Spindola (Fora do Eixo Discos) e Bart (53HC) e Alessandro Carvalho (Valvulado Discos), mediando as conversas.

Ná Figueiredo começou provocando os ouvintes dizendo que CDs de rock não vendem mais. “Cansei de montar banquinha em festival, mas os meninos dizem ‘esse já tenho, já baixei’, esse modelo não funciona mais”. Várias reações contrárias vieram, como a fala de Letz Spindola, dizendo que muita gente vê o CD físico como um suvenir, gosta de comprar, “prova disso é a Fora do Eixo Discos que têm rodado festivais Brasil afora e muita gente tem interesse”, completou.

Outro assunto bastante debatido foi sobre a distribuição de materiais de bandas independentes. A Tratore, principal distribuidor de bandas indies hoje, recebeu críticas duras principalmente porque não se preocupa em manter dados atualizados para os selos com quem trabalha. “A Tratore hoje não serve, tem um catálogo imenso de bandas, mas não me dá um feed back, o retorno que preciso”, exemplificou Ná Figueiredo.

Dessa discussão surgiu uma proposta para a criação de um selo único ou uma entidade que reunisse interesses em comum: selos que trabalham com bandas independentes e têm dificuldade para realizar a distribuição. “Nada de concreto saiu dali, por falta de tempo mesmo, porque os debates se estenderam bem, mas ficamos de levar adiante e se unir para discutir o assunto com atenção” – esclareceu Letz Spindola. O debate se estendeu ainda por cerca de meia hora além do horário previsto.


Maíra: "quem quer falar que faz alguma coisa ambiental, trabalha em cima da reciclagem, sendo que é o último processo dessa cadeia, pois reciclar também polui, não atinge a raiz do problema"

Em seguida, integrante do coletivo Peleja e especialista em gestão ambiental, Maíra Miller, precisou se virar com o pouco tempo restante para explanar sobre a “redução de impactos ambientais nos festivais”, temática do Jambo Verde. Ela preferiu falar sobre consumo, passando por alguns mitos relacionados a água, a higiene de alimentos e o perigo da visão que se tem hoje dos recicláveis. “Existe uma cadeia de ‘erres’ e os principais são: a reflexão, redução, reutilização e por último a reciclagem; e geralmente as empresas, os festivais, quem quer falar que faz alguma coisa ambiental, trabalha em cima da reciclagem, sendo que é o último processo dessa cadeia, pois reciclar também polui, não atinge a raiz do problema, que é a redução e o pensar no consumo”. Além desses esclarecimentos,  durante a palestra Maíra fez intervenções poéticas, recitando longos poemas como o “Eu etiqueta”, de Carlos Drummond e, com o tempo estourando, acabou falando muito pouco sobre a redução do impacto ambiental nos festivais.

Quem permaneceu no Muna, assistiu ao debate mais quente de todo o Jambolada 2009. A temática seguinte versava sobre direitos autorais, com os convidados Gustavo Anitelli, do Movimento Música pra Baixar (MPB) e produtor do grupo O Teatro Mágico, Daniele Souza e Rafael, representando a União Brasileira de Compositores (UBC) e o mago Cláudio Prado, da Cultura Digital.

A discussão girou em torno de como a legislação sobre direito autoral e os mecanismos do ECAD (Escritório Central de Arrecadação) não são mais compatíveis com a nova maneira que o mercado musical vem se estruturando. O tema, amplamente debatido, inclusive com várias intervenções da platéia, dividiu os presentes em duas bandeiras bem claras: aqueles que produzem ou estão ligados a cadeia musical independente e a UBC, entidade ligada ao ECAD e, portanto, defensora de seus interesses.

Os representantes da UBC receberam um turbilhão de questionamentos, dúvidas e críticas a respeito do atual modelo de distribuição da verba aos artistas associados. Visivelmente dando respostas que não contemplavam os ouvintes, perguntaram da platéia: “Alguém elogia o ECAD?” A resposta de Daniele Souza: “Os músicos sertanejos e os trilheiros [profissionais que criam trilhas para novelas e filmes]”. Para quem ainda tinha alguma dúvida de que o presente modelo (o ECAD fformulou-se na década de 70) não corresponde aos novos processos de produção musical vigentes, Claudio Prado sintetizou: “Por que vocês acham que o ECAD tem 300 advogados?”.

Fotos e reportagem: Gabriel Ruiz

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